Por Maciel Rodrigues, com base em matéria de Mariana Muniz, Lauriberto Pompeu e colaboração de Renata Agostini, de O Globo.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem intensificado articulações políticas nos bastidores à medida que cresce no Congresso o movimento pela anistia aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro. A informação foi publicada pelo jornal O Globo, na madrugada desta segunda-feira (14), e revela uma série de gestos recentes de Moraes em direção à classe política, inclusive mudanças de postura em decisões judiciais — o que tem levantado críticas e questionamentos sobre sua atuação.
Entre os movimentos mais visíveis estão jantares com representantes dos Três Poderes, visitas ao Congresso e decisões que indicam flexibilização nas punições aplicadas a réus envolvidos nos episódios de vandalismo contra as sedes dos Poderes da República. Um dos encontros mais comentados foi o jantar oferecido por Moraes em sua residência, que reuniu nomes como os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, além do vice-presidente Geraldo Alckmin. A homenagem era ao senador Rodrigo Pacheco, a quem Moraes tem proximidade, e que já atuou para barrar pedidos de impeachment contra o ministro.
A presença de Moraes em eventos no Legislativo e a autorização de visitas a presos como o general Walter Braga Netto — além da revisão de penas em casos específicos, como o da mulher que pichou uma estátua em 8 de janeiro — são interpretadas como tentativas de reduzir o desgaste junto ao Congresso e a setores da sociedade.
No entanto, a postura do ministro tem provocado inquietação. O que se espera de um magistrado da mais alta Corte do país é isenção e distanciamento do meio político. A intensificação de articulações e a mudança de tom em decisões judiciais levantam o debate sobre os limites da atuação institucional.
Alexandre de Moraes já ocupou cargos no Executivo e mantém ligações antigas com figuras como Michel Temer, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab. Mas, como ministro do STF, sua função exige cautela e discrição, especialmente diante da pressão pública e institucional.
A matéria de O Globo evidencia o protagonismo do ministro. No entanto, permanece a dúvida: até que ponto essa atuação política é compatível com a imparcialidade esperada de um integrante do Supremo Tribunal Federal?
Ao adotar um tom mais conciliador e reforçar vínculos políticos, Moraes busca preservar sua influência no cenário nacional. A dúvida que fica é se esse caminho fortalece ou compromete a credibilidade do Judiciário.