A tentativa do vereador Rosimério de Cuca (à esquerda na foto) de desqualificar publicamente o médico Dr. Edson Moura (à direita), por meio de uma moção de repúdio e ataques verbais que beiraram o absurdo — ao chamá-lo de “psicopata” e “doido” — é mais que uma afronta à figura do profissional. É um sintoma preocupante da falência do debate público em nossa cidade. Em vez de rebater os argumentos com dados, o vereador optou pela desinformação, pela agressividade e pelo desrespeito, expondo não apenas seu despreparo sobre o tema da saúde materno-infantil, mas também sua subserviência explícita ao Poder Executivo, responsável pela inauguração da Casa de Parto Humanizado em Serra Talhada. O parlamentar, que deveria prezar pela fiscalização e pelo equilíbrio institucional, mostrou-se mais interessado em defender o governo do que em ouvir vozes técnicas com décadas de experiência.
Dr. Edson Moura, com mais de 50 anos dedicados à medicina, levantou uma crítica contundente sobre a estrutura da unidade recém-inaugurada, classificando-a como um retrocesso diante da ausência de suporte técnico para intercorrências obstétricas. Ao invés de reconhecer a legitimidade do alerta, o vereador partiu para o ataque. Mas Moura não está sozinho. O também médico Lourival Rodrigues (ao centro na foto), ginecologista e obstetra, endossou a preocupação ao denunciar a ausência de UTI materno-neonatal, suporte cirúrgico imediato e estrutura resolutiva compatível com situações graves como eclâmpsia, hemorragias ou sofrimento fetal — condições que, quando mal assistidas, resultam em sequelas irreversíveis ou até morte materna e neonatal. Ou seja, não se trata de opinião isolada, mas de um posicionamento técnico, legal e ético, respaldado por normativas da ANVISA e princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente.
É essencial reconhecer que a proposta de um parto mais humanizado, fora do ambiente hospitalar tradicional, é válida e vem sendo debatida no país e no mundo. A ideia, em tese, visa resgatar a autonomia da mulher sobre o seu corpo e o processo do parto. No entanto, sua implantação exige critérios rígidos de segurança, fluxos de transferência bem estabelecidos e infraestrutura de retaguarda que proteja mãe e bebê em caso de urgência. O que médicos como Moura e Lourival apontaram foi justamente a ausência dessas garantias. Defender a humanização do parto não pode significar romantizar improvisos, nem justificar a negligência com a retórica do progresso. Quando o risco é a vida, não se pode abrir mão do rigor técnico.
O vereador Rosimério, ao invés de se aprofundar nas críticas para compreender as lacunas da nova unidade de saúde, preferiu blindar politicamente o governo municipal, silenciando — ou tentando silenciar — os profissionais que ousaram questionar a narrativa oficial. Esse tipo de atitude não apenas empobrece o debate, como coloca em risco a própria função de um legislador, que é, entre outras coisas, ser a voz crítica e fiscalizadora dos atos do Executivo. O papel do parlamentar não é aplaudir cerimônias de inauguração, mas garantir que os equipamentos públicos funcionem com eficiência, segurança e responsabilidade. Atacar quem aponta falhas, em vez de cobrar correções, é contribuir com o erro.
Por fim, é preciso dizer com clareza: a inauguração da Casa do Parto Humanizado pode, sim, ser um avanço importante — desde que esteja acompanhada da estrutura necessária para garantir um parto seguro e digno. Mas para isso acontecer, é essencial ouvir a categoria médica, respeitar o saber técnico e admitir os pontos falhos da implantação. Ao transformar crítica em crime e apontar o dedo para profissionais que alertam sobre riscos reais, o vereador perde uma oportunidade de agir com grandeza. E Serra Talhada, que tanto precisa de representantes comprometidos com o bem coletivo, perde um pouco mais de sua esperança de ver a política servir, de fato, à vida.