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Sem voz e sem plateia: Lula foge do 1.º de Maio e expõe distanciamento dos trabalhadores

O editorial do Estadão desta sexta-feira, 2 de maio, escancara com precisão desconcertante a falta de sintonia entre o presidente Lula e os trabalhadores brasileiros que, um dia, foram a base de sua trajetória política. A ausência deliberada do presidente nos atos do Dia do Trabalho confirma o diagnóstico de um governo esgotado em sua capacidade de dialogar com o mundo real – aquele em que o trabalhador não vive de slogans, mas de esforço, reinvenção e, sobretudo, resultados.

O próprio Estadão faz questão de lembrar que o presidente evitou o 1.º de Maio por temer mais uma cena vexatória como a do ano anterior, quando falou para um público disperso, mais interessado nos prêmios sorteados do que nas palavras de ordem requentadas dos líderes sindicais. E com razão. Lula parece não ter compreendido que a “classe trabalhadora” que o consagrou nos anos 1980 se dissolveu diante das transformações do século 21 – não apenas tecnológicas, mas culturais e sociais.

A esquerda lulista continua presa ao romantismo do chão de fábrica, como se o mundo do trabalho ainda girasse em torno da dicotomia patrão-empregado. Enquanto isso, milhões de brasileiros seguem invisíveis para esse discurso: autônomos, empreendedores informais, trabalhadores de aplicativos, jovens que conciliam estudo e “bico”, todos fora do radar de sindicatos fossilizados e palanques cada vez mais vazios.

A crítica feita pelo Estadão à proposta de redução da jornada sem corte salarial é justa: ignora a baixa produtividade brasileira e promete um ganho irreal num país onde boa parte da população ainda vive da informalidade. Do mesmo modo, a velha fórmula de anunciar benesses em rede nacional, com estética de campanha eleitoral e sorrisos encenados, soa como desrespeito à inteligência de quem batalha diariamente para pagar as contas.

O 1.º de Maio não deveria ser mais um feriado esvaziado de significado, tampouco um palco para encenações políticas anacrônicas. Como bem pontua o jornal, Lula optou pelo conforto do discurso televisivo, dirigido a uma audiência que já não se reconhece nas promessas que ele repete desde o século passado. Foi um silêncio simbólico – e ensurdecedor.

Afinal, quem já não tem mais o que dizer, costuma apenas repetir o que já foi dito. E isso, hoje, não comove nem convence mais ninguém.

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