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Márcia e aliados revisitam alianças: discurso contra Raquel revela narrativa de conveniência

Em política, mudar de palanque não é novidade. O curioso é observar as narrativas construídas para justificar essas guinadas — discursos muitas vezes frágeis, que se apoiam em argumentos emocionais ou revisionismos convenientes. O aparte da vereadora Alice Conrado (PT) durante a 21ª Sessão da Câmara de Serra Talhada, nesta terça-feira (1º), exemplifica bem esse tipo de manobra retórica. Ao relembrar um episódio envolvendo a governadora Raquel Lyra (PSD) — que, segundo Alice, teria “trancado as portas” para não sair de casa e receber o povo —, a vereadora tenta sinalizar que já havia, desde então, uma “premonição” de decepção com a líder estadual.

O detalhe é que esse mesmo grupo político, encabeçado pela prefeita Márcia Conrado, não hesitou em migrar para o palanque de Raquel no segundo turno de 2022, depois de ter apostado em Danilo Cabral, candidato do PSB que naufragou ainda no primeiro turno. Márcia não só aderiu como foi contemplada: obteve cargos na estrutura estadual e viu avançar pautas como a criação do curso de Medicina na AESET, gesto que a própria prefeita comemorou publicamente, celebrando a parceria com a governadora que agora seus aliados atacam. A pergunta que resta é: o que mudou de lá para cá, além do vento que sopra as urnas?

Esse tipo de discurso — “eu já sabia que não ia dar certo” — funciona como tática de convencimento. É uma forma de suavizar o desgaste de sair de uma base aliada e aderir a outra, geralmente mirando dividendos eleitorais maiores. Em vez de assumir que há um cálculo de sobrevivência política, a retórica tenta atribuir culpa ao outro lado, criando narrativas de traição ou incompetência alheia. É a mesma lógica de quando, em meio a denúncias graves de corrupção no INSS, a prefeita preferiu classificar as críticas como “vazias de quem não tem o que mostrar”, desviando o foco do mérito para a suposta desqualificação do denunciante.

No fim das contas, o eleitor atento deveria se perguntar se essas justificativas resistem ao teste da coerência. Ao mesmo tempo em que atacam Raquel Lyra, seus ex-aliados colhem frutos de sua gestão — caso do curso de Medicina — e tentam redesenhar a própria narrativa para caber no novo arranjo político, agora orbitando o nome de João Campos. São contorcionismos que, em essência, mostram quão flexível é a lealdade quando se trata de fisiologismo e pragmatismo de bastidores. É por isso que, para além dos palanques e das manchetes, a pergunta mais importante continua a mesma: quem está disposto a manter a palavra dada quando as circunstâncias mudam?

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