A operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, trouxe à tona uma denúncia de proporções bilionárias envolvendo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Aristides Veras dos Santos, irmão do deputado federal Carlos Veras (PT-PE). A investigação apura um esquema de descontos indevidos em aposentadorias e pensões de agricultores, que teria movimentado cerca de R$ 6,3 bilhões.
Segundo a reportagem do Blog do Ricardo Antunes, a Polícia Federal afirma que Aristides teria solicitado o desbloqueio de 34.487 benefícios previdenciários por meio de documentação considerada irregular pela auditoria do INSS. A ação teria sido feita com a ajuda de duas funcionárias de sua confiança na Contag: Thaisa Daiane Silva, secretária-geral, e Edjane Rodrigues Silva, secretária de Políticas Sociais.
A Contag, presidida por Aristides desde 2017 e com histórico de alinhamento político com o Partido dos Trabalhadores (PT), aparece no centro da investigação por movimentações financeiras vultosas. Somente entre 2019 e 2024, a entidade arrecadou mais de R$ 2 bilhões, enquanto mais de 1,3 milhão de aposentados e pensionistas da agricultura teriam tido descontos indevidos em seus benefícios.
Entre os repasses suspeitos da Contag, estão:
Fetag-BA (Federação dos Trabalhadores Rurais da Bahia): R$ 10.532.438,47
Ferasp (Federação dos Empregados Rurais de SP): R$ 7.990.000,00
Orleans Viagens e Turismo: R$ 5.212.357,93
WJ Locação de Estruturas para Eventos: R$ 843.632,00
Tutano Culinária Artesanal: R$ 737.850,72
O uso de empresas de turismo e gastronomia levanta ainda mais suspeitas sobre a finalidade dos recursos arrecadados pela entidade que deveria representar os interesses dos trabalhadores rurais.
Além de Aristides, o vice-presidente da Contag, Alberto Ercílio Broch, também é investigado. Ele é acusado de lavagem de dinheiro após movimentações suspeitas com a empresa Max Câmbio e Turismo, que incluem depósitos cujas origens não foram identificadas, somando R$ 130.440. A PF ainda apura a compra de um apartamento de R$ 1,62 milhão, realizada por Broch em Brasília, cuja origem dos recursos é considerada incompatível.
As funcionárias Edjane e Thaisa também são alvos de questionamentos. Edjane, que se apresenta como agricultora familiar produtora de milho e feijão, comprou um apartamento de R$ 330 mil no DF, em 2021. Já Thaisa adquiriu dois imóveis: uma casa em Campo Grande por R$ 599.600, e uma gleba em Estrela Jaguari por R$ 4.749,59.
A ligação de Aristides com o PT reacende o debate sobre o uso político de entidades sindicais para fins alheios à representação dos trabalhadores. O próprio irmão do investigado, deputado Carlos Veras, é ex-presidente da CUT-PE e tem trajetória ligada ao movimento sindical rural e à Contag.
Apesar da gravidade das acusações e do envolvimento direto de lideranças sindicais com histórico de alinhamento petista, até o momento, nem a Contag nem o deputado Carlos Veras se pronunciaram sobre o mérito das acusações. A entidade não respondeu aos contatos da imprensa, e o parlamentar informou, por meio de assessoria, que está cumprindo agenda.
O caso levanta questionamentos não apenas sobre a gestão de recursos da Contag, mas também sobre a relação histórica entre o PT e entidades sindicais, que acumulam poder e recursos públicos enquanto permanecem sob suspeita de má gestão e aparelhamento político. A investigação segue em curso e pode trazer novos desdobramentos sobre o uso de estruturas sindicais para esquemas fraudulentos com prejuízo direto à população mais vulnerável: os aposentados rurais.
A reportagem segue aberta às manifestações dos citados.