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Justiça peruana mantém Lava Jato viva, enquanto Brasil sepulta a sua

Em sua coluna na Revista Oeste, o jornalista Alexandre Garcia lançou luz sobre um contraste gritante: enquanto no Peru a Justiça não hesita em punir políticos corruptos, no Brasil, a operação Lava Jato foi desmobilizada, demonizada e enterrada sob um manto de manobras jurídicas.

O episódio recente envolvendo a concessão de asilo político à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia — condenada pela Justiça do Peru a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro — trouxe de volta à memória dos brasileiros o que foi a Lava Jato. Como lembra Garcia, a “generosidade” do governo brasileiro em acolher uma condenada reavivou, ainda que involuntariamente, a lembrança de um esforço nacional anticorrupção que foi sufocado pela elite política e pelo sistema judiciário.

O Peru, país em que quatro ex-presidentes foram presos por corrupção — graças a provas, delações e movimentações financeiras ilícitas reveladas pela Odebrecht —, serve como espelho incômodo para o Brasil. “No Peru, os criminosos são tratados como criminosos e vão para a cadeia”, pontua Garcia. Já aqui, o argumento de um “CEP errado” foi usado para anular condenações validadas em todas as instâncias, como no caso de Lula, que teve seus processos anulados pelo Supremo Tribunal Federal.

No Peru, as provas obtidas nas investigações de corrupção continuam válidas e resultam em condenações. No Brasil, conforme destaca Alexandre Garcia, as confissões, os acordos de colaboração premiada e a devolução de bilhões de reais aos cofres públicos foram simplesmente ignorados. Provas foram anuladas, devoluções canceladas, e os próprios responsáveis pela Lava Jato — como o juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol — passaram a ser perseguidos.

Em sua coluna na Revista Oeste, Garcia compara os chamados “excessos” da Lava Jato, usados para sua destruição no Brasil, aos excessos hoje vistos no “Inquérito do Fim do Mundo”, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, sem que haja a mesma reação crítica dos defensores das “garantias constitucionais”.

A ironia, segundo o jornalista, é que as provas que serviram para condenar políticos peruanos são as mesmas que envolvem nomes brasileiros. Mas aqui, enquanto a Justiça decidiu sepultar o trabalho da Lava Jato, no Peru a punição a corruptos avança, firme.

O gesto do governo brasileiro de conceder abrigo à condenada Nadine Heredia, inclusive usando avião da Força Aérea Brasileira, teve repercussões internacionais negativas. A ONG Transparência Internacional afirmou que o Brasil enviou “um sinal preocupante de tolerância com práticas ilícitas”. No Peru, a reação foi tão forte que o presidente do Congresso peruano cancelou uma visita oficial ao Brasil.

O paralelo traçado por Alexandre Garcia expõe a dura realidade: enquanto o Peru enfrenta sua corrupção, o Brasil parece ter optado por “tolerar” a sua — e ainda por cima proteger aqueles que cometeram crimes.

Como bem provoca Garcia: “Será que o Peru vai perguntar se temos vergonha na cara?”

No Peru, a Lava Jato segue viva. No Brasil, parece sepultada — não por falta de crimes, mas por excesso de conveniência política e judicial.

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