Conteúdo do Estadão
Exercícios vespertinos podem ser mais potentes do que os praticados pela manhã para melhorar a saúde metabólica, de acordo com um novo estudo realizado com homens obesos e com dietas muito ricas em gorduras. A conclusão do estudo é que exercícios praticados no final do dia moderam os efeitos indesejáveis para a saúde de uma dieta gordurosa, ao passo que os praticados pela manhã não ajudam.
Mas a pesquisa também concluiu que existem crescentes evidências de que a hora de se exercitar também é importante, e, no caso de muitos de nós, a prática vespertina tem algumas vantagens particulares.
Embora soubéssemos vagamente disto, as operações dentro dos nossos corpos seguem um ritmo circadiano intrincado e mutável. Todos os nossos tecidos contêm relógios moleculares que coordenam nossos sistemas biológicos, levando o açúcar no nosso sangue a aumentar e diminuir durante o dia, junto com nossa fome, ritmo cardíaco, temperatura do corpo, expressão genética, força dos músculos, divisão das células, gasto de energia e outros processos.
O funcionamento pleno desses relógios internos é um mistério. Mas os cientistas sabem como eles se recalibram com base em sinais complexos de dentro e fora do nosso corpo. O mais óbvio é que existe uma sincronização com a luz e o sono, mas esses relógios também se programam para as refeições, significando que quando comemos e o que comemos influi na nossa saúde e metabolismo.
Muitos pesquisadores acreditam que o timing para exercitar também obedece a um relógio interno. Mas resultados de estudos anteriores são inconsistentes. Alguns sugerem que os exercícios pela manhã, antes do café, queimam mais gorduras do que os praticados à tarde. Outros acham o oposto. E alguns experimentos recentes indicam que os exercícios matinais, se forem intensos, na verdade prejudicam o controle do açúcar no sangue, ao passo que as mesmas práticas, mais tarde, atenuam os picos de açúcar e melhoram a saúde metabólica, o que tem benefícios particulares para a saúde do coração e o controle da diabete Tipo 2.
Muitos desses estudos, porém, focaram num único tipo de exercício e raramente controlaram as refeições das pessoas durante os experimentos, tornando difícil separar os efeitos resultantes da hora da prática dos efeitos do que e quando as pessoas comem.
Assim, no caso deste novo trabalho, publicado em maio na revista Diabetologia, cientistas associados ao Mary MacKillop Institute for Health Research na Australian Catholic University em Fitzroy, na Austrália, e outras instituições, decidiram controlar as dietas das pessoas e ao mesmo tempo investigar seu horário de práticas de exercícios.
Eles recrutaram 24 homens sedentários, com sobrepeso (não incluíram mulheres para evitar problemas relacionados com os ciclos menstruais femininos). Os voluntários foram convidados ao laboratório, onde sua condição física aeróbica foi checada, eles informaram suas dietas habituais e depois foi fornecido a eles um cardápio de refeições que consistiam de 65% de gordura, uma vez que os pesquisadores desejavam saber como o horário dos exercícios afetaria o metabolismo da gordura e também o controle do açúcar no sangue. Os voluntários só ingeriram alimentos gordurosos e nada mais durante cinco dias e voltaram ao laboratório para mais testes. Os cientistas então os dividiram em três grupos: um começaria a prática de exercícios diariamente às 6h30, outro às 18h30 e o último grupo continuaria sedentário, como controle.
As práticas eram idênticas, entremeando exercícios intensos em bicicletas um dia com práticas mais longas e mais fáceis no dia seguinte. Os voluntários trabalharam por cinco dias consecutivos, mas continuaram com sua dieta rica em gordura. Depois desse tempo os pesquisadores repetiram os testes originais.
Os resultados foram perturbadores. Depois dos primeiros cinco dias ingerindo alimentos gordurosos, o colesterol dos indivíduos saltou, especialmente o LDL, o tipo menos saudável. O sangue também continha um alto nível de determinadas moléculas relacionadas com problemas metabólicos e cardiovasculares, com as mudanças sugerindo um risco maior para doenças cardíacas.
Por outro lado, os exercícios praticados pela manhã contribuíram pouco para mitigar aqueles efeitos. Os praticantes mostraram os mesmos níveis aumentados de colesterol e moleculares no sangue iguais aos do grupo de controle.
Mas os exercícios no final da tarde reduziram os impactos piores da dieta gordurosa. Os praticantes mostraram níveis de colesterol menores depois de cinco práticas, como também houve uma melhora no caso das moléculas relacionadas à saúde cardiovascular na sua corrente sanguínea. E também desenvolveram um melhor controle do açúcar no sangue durante a noite após os exercícios, quando dormiam, do que qualquer um dos outros dois grupos.
O resultado desse experimento é de que “o exercício no final da tarde reverteu ou diminuiu algumas das mudanças” que acompanhavam a dieta com alto teor de gordura, disse Trine Moholdt, cientista na Norwegian University of Science and Technology, que liderou o estudo na Austrália. “O exercício matinal não”, disse ele.
O estudo não nos diz como e porque as práticas no fim da tarde são mais eficazes, mas a Dra. Moholdt suspeita que elas têm mais impacto sobre os relógios moleculares e a expressão gênica do que os exercícios matinais. Ela e seus colegas esperam investigar esses assuntos em estudos futuros e também examinar os efeitos do horário de práticas de exercícios entre as mulheres e pessoas mais velhas, como também ver a reciprocidade entre o horário do exercício e o sono.
No momento, contudo, ela alerta que este estudo não sugere de nenhum modo que exercícios pela manhã não são bons. Os homens que se exercitaram ficaram mais aptos do ponto de vista aeróbico, independente do horário em que praticaram. “Sei que as pessoas sabem disto, mas qualquer exercício é melhor do que nenhum.
O exercício no final do dia, contudo, pode ter benefícios excepcionais, melhorando o metabolismo de gorduras e o controle do açúcar no sangue, particularmente se a sua dieta for muito gordurosa. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO