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Correios voltam a atrasar repasses ao Postalis e agravam cenário previdenciário de seus funcionários

Por Maciel Rodrigues – baseado em informações do Portal Poder360

Mesmo após firmar um acordo bilionário com o fundo de pensão dos seus próprios funcionários, os Correios voltaram a atrasar os repasses devidos ao Postalis, comprometendo ainda mais a saúde financeira da previdência complementar dos trabalhadores da estatal. A inadimplência, que já soma dois meses consecutivos, acende o alerta sobre o futuro dos planos de aposentadoria dos empregados ativos e inativos da empresa pública.

Sob a gestão de Fabiano Silva dos Santos, os Correios acumulam aproximadamente R$ 120 milhões em débitos referentes a dois planos previdenciários distintos: o Postalprev, plano complementar dos funcionários, com R$ 42,2 milhões em atraso; e o PBD (Plano de Benefício Definido), com um passivo de R$ 95,5 milhões. O último está diretamente vinculado ao acordo firmado em 2023 para reconhecer uma dívida de R$ 7,6 bilhões com o Postalis.

Acordado no ano passado, o contrato de confissão de dívida previa pagamentos mensais de cerca de R$ 30 milhões por parte dos Correios. A estatal se comprometeu a cobrir metade do rombo deixado no plano BD, fechado para novos participantes desde 2008. A outra metade ficou nas costas dos próprios funcionários, aposentados e pensionistas, por meio de descontos diretos em folha de pagamento — esses, vale destacar, continuam sendo descontados religiosamente, apesar dos atrasos da empresa.

O fundo de pensão dos Correios, que atende cerca de 130 mil participantes, carrega um histórico de más gestões e investimentos temerários, especialmente entre 2011 e 2016, durante o governo Dilma Rousseff. As perdas diretas, estimadas em R$ 4,7 bilhões, saltam para R$ 9,1 bilhões quando corrigidas pela inflação — valor que representa cerca de 60% do rombo total.

Diferentemente dos Correios, que têm evitado a judicialização dos débitos ao quitar parte das pendências antes de completar 90 dias de atraso, os trabalhadores não têm escolha. O desconto é compulsório. Isso tem gerado revolta em sindicatos e entre servidores da ativa e aposentados. Muitos defendiam que a estatal não assumisse integralmente os prejuízos antes de esgotar as possibilidades de responsabilização judicial da antiga gestora do fundo, o BNY Mellon.

Internamente, a pressão cresce também sobre o Postalis. O presidente do conselho deliberativo do fundo, Hudson Alves da Silva — que, além de indicado por Fabiano, também ocupa um cargo de confiança na diretoria financeira dos Correios — será cobrado na reunião do próximo dia 28 de maio. A expectativa é de esclarecimentos sobre a omissão diante dos atrasos e os impactos nos rendimentos futuros dos beneficiários.

Além do impacto direto no caixa do fundo, os atrasos ainda geram encargos à estatal. No caso do Postalprev, são 1% ao mês de juros e 2% de multa sobre o valor devido. Já no Plano BD, os encargos são de 0,03% de juros ao dia, além da mesma multa de 2%. Com o acúmulo de inadimplência, o custo extra pode se tornar significativo.

O presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, advogado e ex-militante do PT, foi indicado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. Sua gestão tem se destacado mais por seu discurso político contra a privatização dos Correios do que pela transparência e boa gestão. Em 2024, os Correios registraram o maior prejuízo de sua história, aprofundando a desconfiança de funcionários e especialistas quanto à viabilidade da empresa nos moldes atuais.

Apesar dos pedidos de esclarecimento, os Correios não responderam aos questionamentos até o fechamento desta matéria. O espaço permanece aberto.

Com uma dívida crescente e um fundo de pensão cada vez mais fragilizado, a estatal corre o risco de deixar seus funcionários à deriva em um futuro próximo. A promessa de estabilidade que, historicamente, atraiu milhares de brasileiros ao serviço público dos Correios pode estar sendo posta em xeque — não por pressões de mercado, mas por má gestão e descaso institucional.

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