A iniciativa teve 344 votos favoráveis, 89 contrários e quatro abstenções no primeiro turno. No segundo turno o placar foi de 338 a favor, 83 contrários e quatro abstenções.
O texto é de interesse de quase todos os partidos representados no Congresso, mas enfrentou dificuldades para ser aprovado. Apenas o partido Novo e o bloco PSOL-Rede votaram contra a PEC.
Por conta de divergências com o Senado, que sinalizou ser contra a medida no ano passado, os deputados desistiram de fazer a iniciativa avançar, o que impediu a validade das novas regras para as eleições municipais de 2024. O relatório foi mudado para atenuar os efeitos da anistia, uma das principais mudanças foi a possibilidade de parcelamento das multas dos partidos.
A PEC, relatada pelo deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no ano passado e remetida para análise de uma comissão especial, que não votou o texto. Como o período mínimo de sessões na comissão foi atendido, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), avocou a votação da PEC para o plenário.
A pressa de votar nesta quinta se deveu ao fato de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ter se comprometido a levar o tema a plenário, caso fosse aprovado na Câmara.
A proposta retira punições para legendas que não cumpriram a cota de recursos públicos para candidaturas de acordo com critérios de cor e gênero. O texto também deixa de responsabilizar os partidos por falhas em prestações de conta.
Além disso, há uma espécie de “financiamento” das dívidas dos partidos, com pagamentos em até 180 meses. No que diz respeito às candidaturas femininas, o novo texto retira o trecho que aliviada partidos que descumpriram as cotas de repasses para candidaturas femininas, porém, mantém o alívio para quem não arcou com as cotas para candidatos negros.
Entenda os principais pontos do novo parecer:
A proposta alega que os partidos enfrentam “dificuldades” para se adaptar às regras de distribuição de recursos para candidaturas femininas e de pessoas pretas;
O novo texto estabelece que os partidos devem enviar ao menos 30% dos recursos do Fundo Partidário e Eleitoral para candidaturas de pessoas pretas ou pardas. Anteriormente, o projeto previa um piso de 20%. Hoje o TSE define que a proporção tem que ser igual a participação de negros entre os candidatos, algo que é próximo de 50%;
A proposta abre brecha para que esses recursos possam ser destinados a apenas um candidato, deixando outras candidaturas de mulheres e negros com pouca verba de campanha;
Os partidos também ficarão livres para escolher uma determinada região para enviar as verbas de campanha;
O texto ainda livra os partidos de pagarem multas ou terem o Fundo Partidário Eleitoral suspenso por irregularidades na prestação de contas realizadas antes da promulgação da emenda;
Partidos e federação partidárias ganharão imunidade tributária, ou seja, estarão isentos de pagarem impostos, como acontece atualmente com entidades religiosas e organizações assistenciais;
Será criado um Programa de Recuperação Fiscal (Refis) para os partidos regularizarem suas dívidas. A proposta prevê que as entidades ganharão isenção dos juros dos débitos e multas acumulados. Desse modo, a correção monetária só será aplicada sobre os valores originais da dívida;
A proposta ainda alivia regras vigentes da prestação de contas e desobriga os partidos a apresentarem recibos em caso de doações de recursos do Fundo Partidário e Eleitoral através de transferência bancária feita pelo partido aos candidatos e candidatas e doações recebidas através de PIX.
A deputada Dandara (PT-MG) foi uma das que se manifestou favorável à PEC:
– A PEC 9 era simplesmente a PEC de anistia dos partidos. Nós conseguimos aqui, em uma grande negociação, não anistiar os partidos, pura e simplesmente. Os partidos deverão pagar aquilo que devem às candidaturas negras do Brasil. E eu estou muito feliz em poder contar com o apoio de tantos partidos nessa negociação – declarou
– O que os partidos não investiram em 2022, eles vão ter que agora pagar ao povo negro, aos candidatos, nas próximas eleições. E isso vai significar o fortalecimento de mais candidaturas negras e o combate às desigualdades – completou a deputada.
Da oposição, o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB) também discursou favorável ao texto.
– Não há anistia porque todos esses valores serão gastos nas próximas eleições. Está aí o texto claro e objetivo.
Por outro lado, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) orientou contra a proposta.
– Já virou rotina no Parlamento brasileiro aprovar regras eleitorais, depois os partidos políticos as descumprem, porque sabem que na legislatura seguinte vão votar um autoperdão. Isso significa, primeiro, malversação dos recursos públicos, que cada vez aumenta mais
Na semana passada, o presidente da Câmara colocou a PEC na lista de votações previstas, mas partidos como o PSOL, Novo e o PT se manifestaram em relação ao novo texto, protocolado poucos minutos antes do início da sessão. Diferente do PSOL e do Novo, o PT é favorável à PEC, mas foi contra votar o novo texto na semana passada sem antes discutir.
Inicialmente, Lira disse que o tema estava pacificado com todos os líderes e que, por isto, poderia ser votado. O líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG), foi um dos que reclamou, fazendo com que Lira recuasse.
Na sessão da semana passada, o chefe da Câmara se queixou da forma como os líderes partidários estavam tratando o tema e disse que o texto não era algo defendido pessoalmente por ele.
– Esta presidência não tem nenhuma vontade pessoal em votar essa PEC. Nenhuma. Relutei durante 3 semanas. Todos os partidos, presidentes de partidos e lideranças partidárias, com exceção do Novo e do PSOL, posicionaram-se a favor da PEC. Portanto, peço aos líderes desses partidos que venham ao plenário explicitar o posicionamento de cada partido, inclusive o do presidente do Senado, que se comprometeu a pautar essa PEC. Só por isso ela está sendo pautada para ser votada hoje, para apreciação naquela Casa de Leis também.